Alguns amigos o convencem a passar num vernissage logo ali na esquina do restaurante onde vocês vão jantar.
Nem bem você atravessou aquela parede humana na entrada da galeria e um sujeito simpático dispara na direção de seus amigos. "Nossa, há quanto tempo."E para você "
Acho que ainda não fomos apresentados, mas já ouvi muitos elogios ao seu talento."
"Estou incrivelmente feliz em revê-los" - ele continua - "olha, a exposição está incrível. Acho que é a melhor do ano.
Os títulos dos quadros são incrivelmente modernos, não fica nada a dever ao Soho.
Fiquem à vontade, o vinho que estão servindo é in-crível.
Não desapareçam, heim, agora que eu reencontrei vocês, não perco mais."
Envaidecido pelo reconhecimento fulminante da sua pessoa - você, que pensava ser um peixe fora d'água num vernissage - cabe-lhe perguntar: "Mas, me digam, quem é esse cara tão atencioso?
O dono da galeria?
O marido da pintora?
O patrocinador dos convites?"
Nada disso - provavelmente, nem a pintora nem galerista o conhecem, pelo menos até esta noite.
Ele é, simplesmente, cem por cento libriano.
O grande promoter do zodíaco.
Alguém cujo sincero desejo de agradar supera todas as convenções.
Um libriano faz as honras da casa até quando a casa não é dele: nada é mais vital para a balança do que os rituais sociais e as boas-maneiras, aí incluídos elogios à queima-roupa, frases sob-medida e olhares derramados.
Mas seria uma calúnia afirmar que ele não passa de um hipócrita bajulador.
O libriano acredita honestamente que aqueles quadros da exposição são divinos, e que ter conhecido você foi a coisa mais importante da sua vida - pelo menos até sair para o próximo vernissage.
O desejo de agradar da balança está intimamente ligado à imperiosa necessidade de que todos o vejam como a criatura mais agradável da face da Terra: por isso ele se empenha tanto em se tornar a imagem mais charmosa e comentada da noite, competindo inclusive com os próprios quadros.
Libra precisa ser aceito socialmente - e isto não é exatamente um defeito. Para um aquariano ou escorpionino, incapazes de dar a devida importância às aparências, este signo regido por Vênus pode parecer um tanto fútil.
Mas isso é puro preconceito: o que seria do Olimpo sem sua Afrodite sacudindo os cabelos na espuma da praia?
Provavelmente, um antro de deuses brigões, descompostos e sem nenhum talento para amenidades que adoçam a vida até mesmo dos imortais.
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
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